Por um momento eu achei
Por um momento eu achei…
Por um único e rápido momento, eu achei e foi como se o tempo parasse, como se as possibilidades saíssem dos sonhos para entrarem na vida.
A noite – era de noite – ganhou um perfume novo que apagou o cheiro de diesel que empesteava o ar.
O barulho da avenida morreu, as luzes da cidade ficaram mais fracas e as estrelas brilharam de novo, como quando São Paulo era campo e o cruzeiro do sul chamava para a grande aventura de conquistar os sertões.
Eu achei, por um instante eu achei…
E a vida alterou seu curso, para ver a lua sair de trás de uma nuvem , e para rir da minha alegria.
De repente todas as graças dançavam à minha volta e Pã tocava sua flauta.
Eu era Orfeu resgatando Eurídice dos infernos.
Eu era o semideus, o que pode tudo, o que tem tudo, simplesmente porque eu achei que o impossível era possível e que o sonho poderia ser verdade.
Eu achei… E cada átomo do meu corpo se eletrizou, tomado pela certeza que eu tinha e que era confirmada pela mudança da noite.
Sem razão nenhuma, eu achei. Simplesmente achei…
E a poesia escapou da sua cela para cantar comigo as belezas da noite e a felicidade que vivia nela.
Sem nenhuma razão eu achei.
Achei como o condenado a morte que vê amanhecer e de repente sente que a execução não se consumará… Que a execução será infinitamente adiada e que lhe será dado fumar eternamente o último cigarro que lhe deram.
Eu achei.
Sem qualquer razão lúcida, sem lógica, apenas porque a vida nos reserva o sonho de crer no sonho…
E nos acordar, perdidos num mundo que é o mesmo mundo e onde nada mudou.
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