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A lua e suas fases

As fases da lua comandam o ciclo das mulheres e o movimento das marés. São elas que determinam a fertilidade do mundo, no vai e vem das águas que deixam nas praias as sobras da vida.

As fases da lua falam da expansão do universo e das rotas que os antigos seguiam, atrás das estrelas que apontavam o Norte e que a lua ofuscava.

A lua cheia é a mãe da lua. É a gravidez do astro parindo a ilusão dos poetas , no brilho da noite pintada de azul. Não há no céu espetáculo mais belo do que a lua cheia, com sua aura de luz, hipnotizando os olhos, branca crescendo sempre no escuro que lhe serve de fundo.

Seu brilho fala de viagens, de partidas e de encontros. De sonhos feitos verdade e de descobertas além das montanhas.

A lua cheia é feiticeira. Com seu brilho ela encanta os homens que se atiram em aventuras fantásticas, na perseguição vã dos segredos do seu ciclo. E eles se perdem, devorados pelo olhos da amada, que brilham como duas luas e os engolem.

A lua nova é o eterno recomeço. O retrato do destino que nos obriga a começar a cada dia de novo, numa jornada incessante e eterna, que se inicia com o primeiro choro, para se extinguir no infinito, num alo microscópico de luz, perdido numa galáxia distante, bilhões de anos depois de ter sido vida.

O crescente fala da constância do amor. Da sua matéria, feita de sonhos e vontades, de dar e receber. Como a lua o amor cresce num ritmo fiel, que bate a cada noite no fundo do peito, na mesma toada que a lua bate no fundo do céu.

Como o amor, ela se esconde e se descobre, se esconde e se descobre, e brinca com as nuvens, e some, deixando a vontade não realizada e a história mal escrita, até outro noite, em que ela volta e se entrega, completando o ciclo da lua, na gravidez da lua cheia, redonda e tomando conta do céu.

A minguante fala dos sonhos não vividos. Das esperanças que poderiam ter sido, mas que se mantiveram apenas esperança.

Quantas e quantas noites nós sonhamos acordados todas as venturas e as aventuras, possíveis e impossíveis, embalados pelo brilho da lua cheia? Quantas garrafas de vinho selaram acordos mágicos que nos dariam o infinito e os potes de ouro atrás do arco-íris?

Depois, nós nos atiramos à empreitada e os sonhos vão sendo domados pela vida, que os diminui e nos diminui, dando-nos nossa dimensão humana, que se refaz misteriosamente divina, na lua nova que recomeça o ciclo de todas as luas.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.