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A idade do amor

Qual é a idade do amor? Será que o amor mais profundo, o que dói mais, acontece por volta dos dezoito anos? Mas, e o amor que veio antes, que foi a descoberta do amor, e que fez cair a primeira lágrima aos treze? Será que ele não era amor?

E o amor maduro, que acontece depois dos trinta? Será que ele não é capaz de mover montanhas e de fazer homem e mulher fazerem coisas que antes eles nuca fariam? Será que ele não esquenta a alma, e, por chegar numa hora mais tranquila, não vira o mundo de ponta cabeça?

E a curva perigosa dos 50, em que Carlos Drummond de Andrade tropeçou neste amor, que dor, que mágoa secreta e profunda provoca a síntese da flor?
O amor não tem idade. O amor não tem explicação. O amor simplesmente acontece.

Mesmo a definição do que é amor é extremamente complexa. O que você sente de um jeito, eu sinto de outro; o que você externa de um jeito, eu externo de outro; o seu ciúme é o meu silêncio, a sua insegurança é a minha certeza, e assim por diante. Não há uma fórmula em que os sentimentos se encaixem para serem definidos como amor.

A vida passa, se estende, faz curvas, se alarga, se estreita, nos joga nos braços da felicidade, nos arranca deles, nos faz, com o seu passar, mais experientes. E, no entanto, quando o amor chega, não há experiência, não há razão que nos segure. Somos outra vez crianças brincando com fogo, prontas para nos queimarmos.

E é essa incerteza, este risco, que fazem a graça do amor. O amor monótono, o amor que é rotina, pode ter sido amor, mas faz tempo que deixou de ser, substituído por outro sentimento, que pode até ser quente, mas não é amor.

O amor não avisa, o amor acontece. De repente, olhamos nos olhos e vemos um brilho diferente, um detalhe, quem sabe um meio sorriso, que é o começo de tudo. É o primeiro segredo, o pai de todos os outros no meio dos quais o amor vai crescer.

Não existe amor sem segredos repartidos. O amor precisa do segredo para se consolidar. Ele precisa de instantes só nossos, de momento que não podem ser contados, de sensações únicas, de cumplicidade.

Quem sabe a palavra mais importante dentro do amor seja cumplicidade. É indispensável que os amantes dividam e confiem. É imprescindível que esta confiança se transforme em certeza e que o gesto e o olhar sejam suficientes para desfazer qualquer mal entendido, qualquer desconfiança.

O amor não tem idade. Ele simplesmente acontece, e nos faz de novo puros, inocentes como a primeira criança, inconsequentes como a primeira criança.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.