Lua cheia
Faz tempo, nós descíamos da sede da fazenda para o terreiro, nos deitávamos em cima de edredons velhos e ficávamos ouvindo música e olhando o céu, especialmente nas noites de lua cheia.
Também acontecia dela surgir na volta das cavalgadas até o morro da Cabaninha, onde íamos ver o por do sol. Na volta, no escuro, a lua cheia tomava seu lugar no céu e iluminava o vale com sua luz fraca, mostrando os contornos da mata.
Mas se a lua cheia da fazenda, quando nós éramos moços, pagava seu preço, a lua cheia no Guarujá até hoje é deslumbrante. Lá do alto ela abre uma longa avenida no mar e liga a realidade da vida à esperança do sonho, do outro lado do oceano, onde o pote de ouro do arco-íris está esperando os que não têm medo de acreditar que é possível ser feliz.
A felicidade tem a consistência de uma folha balançando na brisa do fim da tarde, mas é real e profunda, como a lua cheia subindo atrás das árvores, do outro lado da rua da minha casa.
Desde sempre a lua cheia me hipnotiza. Me faz ficar comovido, me fala de coisas boas que podem acontecer e fazer a vida melhor e mais bonita.
A lua cheia ilumina com sua luz a possibilidade de todas as possibilidades, a quase certeza de que o sonho pode virar realidade, que é possível fazer e dar certo.
A lua cheia promete, mas a entrega depende de nós. De acreditar e ir à luta, porque quem fica parado é poste.
Quase tudo neste mundo tem poesia. E pode ter encontro de mãos estendidas, de olhos procurando. A vida é a longa busca por alguma coisa que antes de encontramos não sabemos o que é.
A lua cheia é a lanterna que ilumina a estrada nas noites escuras.
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