Pressione enter para ver os resultados ou esc para cancelar.

Os ipês brancos

Os ipês brancos decidiram florir. É a florada mais bonita e mais rápida de todas. Dura poucos dias, mas enquanto dura tem a capacidade de transformar a vida, embelezar o pedaço como se uma nevasca caísse sobre a árvore e fosse fotografada antes da sujeira da rua manchar seu branco absoluto.

Os ipês brancos chegam mais ou menos juntos com os ipês amarelos. Em teoria, deveria ser um pouco antes, mas, como a natureza está de ponta cabeça, as coisas não acontecem com a regularidade esperada e aí até os jacarandás vão dando o ar da graça antes da hora.

Os ipês brancos são delicados. As árvores são mais finas que os outros ipês, os galhos também e a florada que os veste, quando desce, desce com tudo e monta as árvores como se fossem reis ou rainhas em seus trajes de gala, no dia da coroação.

Os ipês brancos falam de viagens para pontos distantes, o alto dos Andes em longas caminhadas montanha acima, até chegar na Capital Inca e se estranhar com os espanhóis, na disputa pelas minas do Potossi.

Os tempos passados se materializam no sonho fugaz do ipê branco florido. São Paulo era uma corrutela de boca de sertão e seus filhos já demandavam longas distâncias, tirando o ouro e as pedras preciosas dos segredos da terra.

As longas marchas, mata adentro, iam do Sul ao Guairá, subiam o Paraopeba, atravessavam a lagoa Dourada para abrir o Pará e plotar o ouro que seria retirado de Serra Pelada quatrocentos anos depois.

Os ipês brancos guardam as lembranças, revivem lendas e história, reabrem os sonhos e dão esperança para quem demanda São Paulo atrás do sonho da vida melhor e do futuro para os filhos. Mas, antes de tudo, os ipês brancos, na sua rápida florada, enfeitam a vida.

___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.

Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.