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Os sabiás de madrugada

Não tem nada de novo, faz muitos anos que eles invadem a madrugada com seu piado comprido. No começo, foi novidade; agora, como já faz tempo que acontece todos os anos, tem gente que gosta, tem gente que não gosta. Enfim, a democracia se apresenta com todas as suas cores no amor ou desamor pelo canto dos sabiás.

Tanto faz quem gosta, tanto faz quem não gosta, os sabiás são independentes, não temem ameaças, exceto os gaviões que sobrevoam seus ninhos, e tocam em frente, piando madrugada a fora. Afinal, é a forma que eles têm de conquistar sua parceira, iniciarem um relacionamento, eventualmente discutir a relação e perpetuar a espécie.

Este ano a cantoria começou há coisa de duas semanas. Tem quem diga que é piação, que sabiá não canta de noite, canta de dia. Pode ser. De dia o canto é mais amplo, mais longo, mais harmonioso, mas de noite ele faz a diferença entre seguir em frente na aventura sobre a terra ou se acabar com a morte da ave.

A piação noturna tem alguma coisa de desesperada. De definitiva. A ave sabe que ou dá conta do recado e arruma sua fêmea ou não vai passar sua carga genética para a próxima ninhada.

É jogo de tudo ou nada, ou vai ou racha, por isso cada um cuida de si e pia o mais alto que pode para mais fêmeas escutarem o chamado e ele ter mais chances de acasalar.

Os sabiás laranjeira tomaram São Paulo de assalto. Se, quando eu era menino, os pardais davam as cartas, agora os sabiás assumiram o controle e estão por todos os lados da cidade. Se número e tamanho contam a festa é deles.

Chora mais quem pia menos. O jogo é de taça e os sabiás chutam de bico. As madrugadas ficam movimentadas, alegres e mais gostosas.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.