Higiene faz a diferença
[Crônica do dia 14 de fevereiro de 2008]
“Não, não faça assim. Não deixe sujo. Limpeza é tudo. Faz a diferença. Quem trabalha aqui somos nós, então se estiver sujo é ruim para nós. Quem vai ter que limpar de novo somos nós, quem perderá os fregueses somos nós. Quem depende disso aqui somos nós.”
Quem falava não era o gerente, nem o dono de uma empresa. Era o engraxate da cadeira próxima ao desembarque doméstico da Ala 1 do Aeroporto de Guarulhos.
O nome dele é Marcio. E sua profissão implica em literalmente sujar as mãos. Ninguém engraxa bem um sapato sem sujar as mãos de graxa. E ele não era exceção.
Confesso que fiquei impressionado com o jeito que ele falava com seu companheiro. Num país onde jogar carro velho em rio ou coco na rua é comum, alguém se preocupar com a limpeza de uma banca de engraxate num aeroporto não é comum.
E o Marcio se preocupava. A tal ponto que pelas tantas seu colega ficou com vergonha e começou a se justificar, inclusive dizendo que há alguns dias havia preparado uma tinta nova, que estava guardada num pote não sei de que jeito, não sei aonde.
Então comecei a prestar atenção na forma como ele engraxava meu sapato e, de novo, fiquei impressionado. Ele passava a escova e o pano com cuidado, quase com carinho, como se fosse fundamental tratar bem o sapato de alguém que passava pelo aeroporto e que provavelmente não voltaria a engraxar com ele, para fidelizar o freguês.
Se o Brasil tivesse meia dúzia de engraxates como o Marcios no governo com certeza o país teria outra cara. Uma cara mais limpa e com certeza mais eficiente.
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