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O crachá trapezista

[Crônica de 3 de agosto de 1998]

Existem crachás de todos os tipos e jeitos. Alguns chegam a ser bonitos, a maioria é muito feia, mas sua função, segundo seus pensadores, não é ser bonito ou feio, e sim identificar quem os porta, para que as equipes de segurança possam saber quem é quem e não incomodar as pessoas certas, nas horas erradas.

Como exemplo da importância do uso do crachá, vale lembrar o assalto ocorrido dentro do prédio de uma grande empresa com sede na avenida paulista, cuja agência bancária ficava no quarto andar. Não fosse os ladrões chegarem lá usando os crachás de visitantes, com certeza teriam tido problemas sérios para atingir as instalações do banco e saírem, sem serem incomodados, com todo o dinheiro do posto, em dia de pagamento.

Dentro da enorme gama de crachás, alguns são evidentemente mal-humorados. Eles olham ranzinzas, com caras de poucos amigos, normalmente do alto da lapela do terno sisudo, pendurados durinhos, como soldadinhos de chumbo.

Outros são alegres, extrovertidos e olham sorridentes, pendurados em cordões, ou presos de forma mais informal, tentando ser amigos, ou, pelo menos, mostrando que não mordem.

Tem também o crachá com vocação para agente secreto e que, por conta disso, insiste em ficar escondido no bolso ou na carteira do seu dono. Mas existe ainda um outro tipo de crachá: o crachá com vocação artística. Estes são os melhores, os mais alegres, os mais simpáticos, os mais bonitos. E entre eles merece destaque o crachá da Janaina Lepri. Ele nasceu para ser artista de circo, acrobata ou trapezista.

É só por isso que fica balançando de um lado para o outro, às vezes ensaiando até um ou dois saltos mortais, pendurado em sua camisa. O sonho do crachá da Janaina é trabalhar no circo e, como ele se esforça para isso, quem sabe um dia ele consegue.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.