Uma força mais forte
[Crônica do dia 29 de junho de 1998]
Não adianta. Desde que o prefeito Jânio Quadros deixou a prefeitura os semáforos tomaram conta da festa, recusando-se a obedecer a quem quer que seja, sem medo da força e imunes à corrupção.
Nem mesmo a promessa de uma viagem à França, levando na bagagem sanduíches de frango, com tudo pago para ver a copa do mundo, sensibilizou as lideranças do movimento, que, indiferente aos luxos materiais, sequer receberam o portador da proposta quase indecente.
O que ainda não ficou completamente claro é se as ditas lideranças recusaram a viagem por ser em classe turística, ou se porque estavam com os olhos na história.
De qualquer forma, mais uma vez a CET perdeu. Os semáforos inteligentes, semi-inteligentes e burros permaneceram unidos, não havendo ponto fraco por onde as ofertas das autoridades conseguisse fazer cócegas nas mão de um único que fosse.
Impassíveis, eles continuam desafiando qualquer comando, abrindo e fechando quando querem, pouco se importando com as ordens dadas pelos técnicos.
normalmente mudam de cor exatamente no sentido contrário do fluxo da rua, fechando quando deveriam abrir e abrindo quando deveriam fechar.
O resultado é o caos. o caos puro que existia antes de deus criar o verbo.
por conta dele, as ruas de São Paulo se assemelham ao universo logo após o “big bang”.
Todas as forças se expandem para todos os lados, num movimento irresistível e incontrolável, fazendo com que cometas e estrelas se formem em poucos minutos, para se estuporarem nas árvores e nos postes, no minuto seguinte.
nada pode com eles. a cidade tem dono, e os semáforos sabem que os donos são eles.
___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.