Os Ipês amarelos
Eu já falei, os ipês amarelos relembram a época do ouro que brotava da terra e se espalhava pelos rios, atraindo a cobiça dos desbravadores.
Bandeirantes trilharam matas e campos, vararam serras, seguiram rios, fizeram roças, fundaram vilas atrás do ouro que desde o século 16 atraiu o europeu na sua saga pela América do Sul.
As bandeiras do Paraopeva plotaram Serra Pelada quatrocentos anos antes do garimpo gigante marcar a terra com sua cratera gigante. Sabarabuçú abriu as Minas Gerais; Goiás Velho lembra as minas no rumo do Araguaia; enquanto o Tietê, correndo ao contrário, leva ao Mato Groso e às minas de Cuiabá.
As flores dos ipês amarelos todos os anos refazem a saga que, durante duzentos anos, abriu o interior brasileiro, desvendando os sonhos arrancados dos leitos dos rios em pepitas que viabilizaram a Revolução Industrial inglesa.
Os ipês amarelos são altivos. Fazem questão de florir desde pequenos, abrindo duas ou três flores em seus galhos frágeis que, com o passar do tempo, se transformarão em árvores como o ipê da Santa Casa de São Paulo, imensas, fortes, grossas, donas das sombras em volta e da altura de sua copa.
Os ipês amarelos falam de viagens, de entregas, de resgates, de lembranças. Quem sabe por isso sua florada tem a capacidade de fazer sonhar acordado, vendo a história passar feito um filme que nós não vivemos, mas do qual somos parte.
Os ipês amarelos normalmente florescem sozinhos, depois dos ipês roxos e dos ipês bancos e antes dos ipês rosa e dos jacarandás mimosos. Mas este ano está tudo confuso. Então eles estão aí, dividindo espaço com quem ainda não deveria ter chegado.
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