Avessos
[Crônica do dia 27 de julho de 2005]
O livro “Avessos” é uma delícia. Numa época de escritores medíocres, o professor de direito se faz contista e resgata o talento e a arte de escrever ficção bem, como é seu costume, faz muito tempo, nos textos legais.
Miguel Reale Junior escreveu um livro fino. Dividido em contos e contracontos, “Avessos”, narra sempre duas estórias com o mesmo mote, uma boa e outra não tão boa, uma com final feliz, outra sem final feliz, pegando os dois lados da vida e expondo-os com graça, num português gostoso de ser lido, simples mas rico, como acontece com quem escreve bem e tem talento para contar estórias.
“Avessos” tem muito da vivência do autor, daí vários personagens serem advogados e a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco aparecer como coadjuvante em mais de um conto. Mas entre ter a vivência do autor e ser autobiográfico vai uma distância imensa, que com certeza não foi encurtada nas páginas saborosas do livro.
“Avessos” não é uma prestação de contas do escritor, não é seu encontro com o destino, nem um testamento intelectual. Não, o livro é apenas um exercício de crítica inteligente, onde Miguel Reale Junior exercita seu talento de ficcionista, em estórias muitas vezes quase óbvias, que acontecem todos os dias na imensidão e diversidade da vida da população brasileira.
São situações que qualquer um de nós poderia vivenciar de perto. Ver acontecer com gente que nos é cara e que faz parte de nosso círculo mais íntimo. E o grande gancho do livro é esse: todos os contos e contracontos são possíveis, por isso, o que nos faz rir é o que, sob outra ótica, nos faz ficar pensativos, Afinal, o que é ficção?
___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.