Mitologia não é só história da carochinha
Tio Lula foi com certeza o homem mais forte que eu conheci. Era também, como costuma acontecer com gente com esta característica, uma das pessoas mais pacíficas e mais bem educadas de São Paulo.
Falava baixo, era respeitoso, mas, acima de tudo, era muito inteligente e ainda por cima fazia um dry martini de deixar os anjos com água na boca.
Era uma delícia ficar jogando conversa fora no seu sítio de Juquitiba. A conversa corria solta de dia, na piscina, e de noite, em volta do caldeirão de carvão na sala. Os temas eram os mais variados e tia Helene, sua mulher, tão inteligente e tão culta como ele, ainda por cima nos servia pratos maravilhosos, que aumentavam a sede e assim a noite ia longe.
Dentro de sua cultura impressionante, Tio Lula, por questões pragmáticas, tinha um lugar especial para a mitologia grega e, dentro dela, uma definição única para o néctar e a ambrosia, a bebida e a comida dos deuses servida para Zeus, o deus dos deuses, pelo eternamente jovem Galimedes, raptado pelo senhor dos raios, apaixonado pela sua beleza.
Segundo Tio Lula, se o céu existe – o que ele não tinha certeza porque nunca tinha estado lá – e se nele os deuses e as demais criaturas divinas se alimentam, então o néctar é chope e a ambrosia é pizza.
Qual chope e qual pizza são detalhes que ele desconsiderava, ou melhor, deixava em aberto. Tanto faz, sendo chope e sendo pizza, é néctar e é ambrosia, os detalhes são meros detalhes para fazer a bebida e a comida mais ricas e variadas e assim atender todos os gostos de todos os convidados para o banquete dos deuses. E para os humanos que bebem e comem as sobras nos bares e restaurantes da vida.
Cada um é cada um. Podem concordar ou não com as conclusões de Tio Lula, mas que tem pouca coisa melhor do que chope e pizza, disso ninguém tem dúvida. Se alguém tem, é porque ainda não provou.
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