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Se o Brasil ganhar muda tudo

A Copa do Mundo mexe com o mundo. Se antes era paixão brasileira, argentina ou italiana, que paravam o país depois da vitória da seleção, hoje se espalhou pelo planeta e até os gelados suíços, para não falar nos disciplinados alemães e nos fleumáticos ingleses, todos se curvam ao futebol, à taça de campeão do mundo e fazem festa, porque, desde os romanos, “pão e circo” é a receita perfeita para manter o povo dócil. Povo contente é povo fácil de governar e nada deixa o povo mais contente do que ganhar o campeonato do mundo e trazer a taça para casa.

Todos os problemas ficam para trás. A festa esconde a crise, a fome, o desemprego, a violência. O governante passa a ser visto como alguém iluminado. O dono da boa sorte, o líder incontestável que leva a nação ao espaço sagrado da felicidade, da fartura e do bem bom da vida.

O Brasil tem tudo para chegar lá. A seleção joga bola e joga bonito. Sabe das coisas, passou a primeira fase. Daqui pra frente afunila, mas tem como, tem jeito, e vamos seguir jogando como campeões.

Se der certo, se o Brasil voltar com a taça na bagagem, não tem pra ninguém, o próximo governo entra em campo com o placar a seu favor.

Então, é hora de político da turma que ganhou acender vela, fazer promessa, degolar frango e pombo nos terreiros, dar muita cachaça para o santo e, de quebra, se acertar com outros apóstolos, bispos e o mais que fala com os deuses para a taça ser nossa e o futuro ficar cor de rosa.

Quem pode, pode; quem não pode, se sacode. Com a taça em solo pátrio o adversário perde qualquer razão. As contestações vão pro fundo do baú, vira tudo festa e alegria na antevéspera do Natal magro que se transforma e parece que fica farto, na imagem da taça nas mãos do capitão.

Na longa história do campeonato mundial de futebol, poucas vezes ganhar foi tão importante quanto este ano.

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Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.