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Os borrachudos são muito chatos

Eu sei que, na visão de São Francisco, eles são criaturas de Deus, da mesma forma que os cupins, os baiacus, as marmotas ou os bisões. São formas de vida diferentes de nós, mas são formas de vida e por isso merecem carinho e comiseração.

Eu sei que, em teoria, não deveríamos matar nenhum animal, mas aí teríamos um problema sério: como não matar e nos alimentarmos? A natureza é a natureza e faz parte dos ciclos da vida um comer o outro, seguindo a antiga lei do mar, onde “o peixe maior só é menor para outro maior”. Quer dizer, neste mundão velho de guerra, o mais forte come o mais fraco, porque é assim que as coisas são.

Eu também sei que os pensamentos negativos são ruins para o fígado, fazem mal pra digestão e não deveriam prosperar. Mas prosperam. Prosperam porque nós não somos feitos à imagem e semelhança do Criador, somos míseros humanos que jogados, na Ilhabela, somos devorados pelos borrachudos.

Tanto faz rezar, fazer promessa, invocar as divindades da luz ou as divindades das trevas, é tudo a mesma coisa, é tudo inútil. Os borrachudos nos devorarão sempre, chova ou faça sol.

Não há repelente, não há creme mágico, bálsamo egípcio, citronela ou outra planta milagrosa. Os borrachudos nos devoram vivos porque a sina dos borrachudos é dar as boas-vindas aos turistas picando, furando e sugando o sangue, enquanto houver sangue.

Nas praias, nas matas, na borda das cachoeiras, dentro de casa, fora de casa, é tudo a mesma coisa. Os borrachudos são insaciáveis e invencíveis.

O duro é que, além deles, temos piuns, muriçocas, carapanãs, pernilongos e mutucas prontos para fazer a festa e sugar nosso sangue.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.