Chuva
Chove, chove copiosamente. Já choveu a noite inteira e continua chovendo nesta manhã cinza, sem sol, com a água caindo do céu como se São Padro abrisse os ralos do Paraíso para nos castigar, ou lavar a alma, porque o corpo já foi.
Chuva de verão é diferente das chuvas do resto do ano. Uma chuva de março é completamente diferente das chuvas de maio, mas a regra não se aplica às chuvas de janeiro e fevereiro. Elas costumam ser como as chuvas de março.
E é aí que mora o perigo ou a certeza de que vai acabar mal. Se para você, no décimo andar de um prédio na Avenida Paulista, está tudo bem, pode ser que o morador da Vila Pantanal ou de Francisco Morato veja a situação sob outro prisma.
Para ele, esta chuva que não para pode ser a perda de quase tudo do pouco que ele tem. Pode ser ficar desabrigado, pode ser coisa pior, que, se Deus quiser, não vai acontecer.
As águas caindo do céu com a intensidade das cataratas de Iguaçu são impressionantes. Nesta época do ano, sempre foram poderosas, mas nos últimos tempos tomaram fortificante e ficaram mais poderosas ainda. Arrastam carros, motos, caminhões e pessoas com a sem cerimônia de quem sabe que é mais forte e que não existe força a serviço do ser humano capaz de impedi-las de seguir viagem.
Em sua passagem, marcam a terra com o sulco profundo da enxurrada. Arrancam o asfalto, levam pontes, derrubam casas, muros e árvores como se quisessem deixar carimbado que elas passaram por aqui num dia de janeiro de 2023, com a firme e única intenção de mostrar que quem manda são elas. Que tanto faz o que achamos ou se a meteorologia soube prevê-las. Elas vieram. A nós resta rezar para os estragos não serem tão grandes.
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