O fim da Kombi
[Crônica do dia 6 de novembro de 2013]
Minha relação com a simpática Kombi, um pão de forma com 4 rodas, é antiga. Começa lá atrás, quando para se ir a Cananéia o melhor caminho era pelas praias do Litoral Sul.
Ainda não havia a Regis Bittencourt. A viagem era longa, difícil, sujeita à boa vontade das marés e outros imprevistos, atoleiros, tempestades, rios cheios, areia fofa e o mais que possa fazer de uma viagem uma aventura.
Meu pai e meus tios, Ruy e Júlio Salles, tinham casa em Cananéia para pescar robalo. Claro que pescavam outros peixes, mas o bom era pescar robalo.
O jeito de chegar lá era de Kombi. Aliás, duas Kombis, cordas, correntes e ferramentas para o que desse e viesse. A viagem levava até 18 horas e não era raro as Kombis rebocarem jipes encalhados no caminho.
Depois, no Guarujá, eu aprendi a dirigir na praia da Enseada, no volante da Kombi de meu pai. Que também era usada para piqueniques nas praias depois de Bertioga, onde eu guiava sozinho.
E evoluiu para o imenso terreno da “Usina” da Companhia Paulista de Laminação, de meu pai e meu tio Júlio Salles, onde, quando eu ia, passava a maior parte do dia dirigindo uma das Kombis da empresa.
Eu aprendi a guiar muito cedo e devo muito às Kombis. Depois vieram fuscas, DKW’s e Aero Willys, mas, no começo da história, lá estão os simpáticos pães de forma, com sua direção quase reta e o câmbio e o breque saindo do assoalho. O estepe ficava atrás do banco da frente e atrás tinham dois bancos, acessíveis por uma única porta, do lado do passageiro.
Eu sei que ela envelheceu. Mas o fim da produção da Kombi encerra um capítulo da história brasileira.
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