Crônica 7800
Existem números que nos fazem parar, descer da vida, encostar num barranco debaixo de uma árvore com sombra e ficar pensando no que fizemos e no que não fizemos, no que valeu a pena, no que, se fosse possível voltar no tempo, não faríamos ou faríamos de novo, do que nos arrependemos por ter feito ou não ter feito, etecetera e tal.
É assim porque é assim. O cheiro de pão saindo da chaminé de uma padaria pode desencadear tsunamis de emoções e sentimentos. Uma flor escondida no canteiro de uma praça malcuidada pode ser o portão do paraíso, a estrada para o infinito ou a reinvenção da “Vitória Samotrácia” colocada nas escadarias da felicidade.
Cada um sabe de si, o importante neste mundo é fazer bem feito, com alma e vontade de fazer. Fazer por fazer frustra, não acrescenta nada, não nos faz melhores.
E assim descubro que estou escrevendo a Crônica da Cidade número sete mil e oitocentos. Não que eu não soubesse que estava chegando perto, seria hipocrisia dizer que fui pego de surpresa. Ninguém que numera suas crônicas pode dizer que foi pego de surpresa ao chegar num determinado número óbvio e consequente dos números anteriores.
Mas às vezes fico alguns dias sem escrever e, ao retornar ao computador, não sei muito bem qual é o número exato daquele texto. É o caso deste. Ao verificar a numeração, descobri que era a Crônica 7800.
De 1992 para cá foram 7800 crônicas tratando de assuntos os mais variados, tendo, normalmente, como cenário a vida na cidade de São Paulo.
São Paulo é um universo, um mar de concreto espalhado sobre o planalto, casa de João Ramalho depois de subir a serra de Paranapiacaba. Daí pra frente são 500 anos de história. A Crônica mostra pedaços do cotidiano da saga. 7800 textos depois, seguimos na lida.
___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.