Mudanças interessantes

[Crônica do dia 11 de fevereiro de 1997]

Me desculpem os que acham que o homem aprende por bem. Seria ótimo se fosse assim, mas não é. De verdade, o homem aprende dando cabeçada na parede e se tiver sorte, dá só uma para cada experiência.

A prova disto é o novo Código de Trânsito e as mudanças que já podem ser sentidas nas ruas de São Paulo.

Se o Código não tivesse as multas que tem, e os pontos que vão sendo descontados até o freguês perder a carta, ninguém o levaria a sério.

Como ele pontua e as multas doem no bolso, os paulistanos vão fazendo um esforço hercúleo para entrar na linha e aprender a dirigir respeitando os parâmetros legais.

É até gozado ver a fila de carros devagarzinho avenida Sumaré a fora.

A gente sente que o motorista está feito louco para afundar o pé no acelerador, mas o medo do radar o contem e ele segue em frente, com cara de ódio, respeitando os 60 km/h permitidos no local.

É um reaprendizado curioso, que por conta das multas altas, está pondo ordem no trânsito mais caótico do país.

O resultado disto será uma cidade mais humana e, o que é melhor, um cidadão mais consciente.

Um cidadão que conhecerá os seus limites, no começo em consequência das multas e depois, por força do hábito.

E um cidadão que conhecerá os seus direitos e os exercerá, obrigando o poder público a também zelar pelas suas obrigações.

A grande graça do Código Brasileiro de Trânsito é que se ele é severo com os motoristas ele também é exigente com as autoridades, e as obriga a trabalhar bem, sob o risco de terem de indenizar todos os que forem vítimas de sua má atuação.

Mais do que isto, o Código facilita sobremaneira a forma de se exigir do poder público o cumprimento de suas atribuições.

Daqui para a frente você pode processar os governantes pelos buracos nas ruas e estradas, pelas curvas ao contrário e pela falta de placas.

Divirta-se, o seu tempo chegou!

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