Pressione enter para ver os resultados ou esc para cancelar.

Coitada da Avenida São Luís

A avenida São Luís foi das avenidas mais bonitas e finas da cidade. Seus prédios, boa parte de alto padrão, mesmo depois de alguns deles serem transformados em escritórios, seguiram sendo bem cuidados, limpos, em sintonia com a rua, as calçadas e o asfalto.

Em suas esquinas pontificavam o Edifício Itália, o Conjunto Zarvos, a Galeria Metrópole e, ao longo do percurso entre eles, o forte eram as agências de turismo e as casas de câmbio. Mais ou menos no meio da avenida, a Praça D. José Gaspar se diferenciava, com a biblioteca e os engraxates em volta.

Os restaurantes faziam a diferença. O Terraço Itália está aberto até hoje, mas os outros fecharam as portas faz tempo, com a cidade perdendo alguns ícones da gastronomia no Conjunto Zarvos e na Galeria Metrópole.

Fazia tempo que eu não caminhava pela Avenida São Luís. Quem conheceu a avenida diferenciada, mantendo a classe no meio do centro decadente, não vai reconhecer o pedaço. Grande parte das lojas está fechada, com placas de vende-se ou aluga-se e a certeza de que não serão vendidas nem alugadas porque o entorno está completamente deteriorado.

As calçadas estragadas são um convite a queda, num tropeção num buraco mais esperto. Mas, além de estragadas, estão quase vazias, expondo o descaso e o abandono que assustam as pessoas.

Medo não é uma palavra imprópria para descrever o que se sente andando pelo antigo endereço que tinha cara de Europa e fazia diferença na comparação com as ruas próximas.

Agora a Avenida São Luís aderiu ao tom que a rodeia. Está tão abandonada quanto as outras ruas da região e não há nada que indique que, pelo menos no curto prazo, vá se recuperar do tombo.

___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.

Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.