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150 anos de um grande poeta

[Crônica do dia 06 de maio de 1997]

Há 150 anos nascia Castro Alves, com certeza um dos maiores poetas brasileiros. Cometa de vida breve e fulgurante, o homem disposto a lutar pela justiça do mundo encontrou em seus versos extraordinários a arma para enfrentar os poderosos e combater a injustiça, perpetuando seu nome, ao lado de nomes como Machado de Assis, Vicente de Carvalho, Mário de Andrade, Manoel Bandeira, Vinícius de Moraes e Carlos Drummond.

Baiano, foi em São Paulo que o seu gênio atingiu o ápice. Aluno da faculdade de Direito do Largo de São Francisco, Castro Alves se entregou de corpo e alma à causa da abolição. Era a mesma devoção com que se entregou ao amor duma mulher, criando em ambas as situações algum dos mais belos versos da língua portuguesa.

“Teus olhos são negros, negros, como as noites sem luar, são ardentes, são profundos como o negrume do mar”.

O mesmo poeta que diz “vai, colombo, abre as portas da minha eterna oficina, tira a América de lá”, escreve versos de amor, porque a sua vida é a vida da própria poesia.

Castro Alves não é apenas poeta, ele encarna a poesia, se alimenta dela, luta com ela, e se rende, em versos duma clareza e duma beleza incomparáveis.
Castro Alves canta Deus, o anjo, o escravo, o sofrimento, a terra e a mulher.

Castro Alves canta a vida porque a vida é a soma de todos os cantos, mas ele vai além, ele vive a poesia que ele canta, numa coerência impressionante entre o homem e o poeta; entre quem não teme dar a vida pela liberdade alheia, e quem não teme se entregar de peito aberto às incertezas do amor.

Eugênia Câmara! Fosse ela apenas uma atriz portuguesa e o tempo se encarregaria de apagá-la. Mas foi para ela que o poeta escreveu alguns de seus melhores versos. Foi a ela que ele deu a imortalidade do seu amor, como foi a todo um povo prisioneiro que ele deu a esperança nos versos largos da sua poesia.

Agora, aos 150 anos do seu nascimento, a poesia perdeu muito do seu espaço. quem sabe seja por isto que ele ande meio esquecido, e o mundo mais triste.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.