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No rumo da santidade

[Crônica de 16 de abril de 1998]

Numa decisão que já vem tarde, dado o tamanho da comunidade católica do país, o papa beatificou frei Antonio de Sant’Anna Galvão, abrindo caminho para que um brasileiro nato possa eventualmente vir a ser canonizado como o primeiro santo brasileiro.

Frei Galvão nasceu em Guaratinguetá, São Paulo, no ano de 1739. Seus estudos para padre foram realizados primeiro no mosteiro jesuíta da Bahia e depois no convento franciscano de Taubaté, onde se ordenou em 1762, com 23 anos de idade.

Frei franciscano, ele ainda se formou em teologia, no ano de 1768. Mas sua grande obra, a base para o pedido de sua beatificação, foi sem dúvida nenhuma a fundação do convento da Luz, onde até hoje vivem freiras em regime de clausura.

Aproveitando o local onde existiam as ruínas de uma antiga capela, frei Galvão iniciou as obras do atual mosteiro, sendo que, em função delas, fez longas peregrinações pelo interior do país, buscando fundos para terminá-las.

Reza a tradição que frei Galvão, devoto ou escravo de nossa senhora, como ele mesmo se nomeava, numa viagem ao Rio de Janeiro, encontrou um homem sofrendo atrozmente em função de dores que o martirizavam, além de qualquer possibilidade de resistência humana.

Compadecido com o sofrimento do homem, o frei escreveu uma frase do ofício de Nossa Senhora num pedaço de papel que ele enrolou e entregou-a para que ele a engolisse.

Tão logo o papelzinho foi engolido, o homem se restabeleceu, deixando de sentir as dores que o atormentavam.

Frei Galvão morreu em 1822, depois de concluir as obras do mosteiro que tão piamente havia fundado. Em 1949 foi aberto o seu processo de beatificação, que agora foi aprovada pelo papa, dando caminho para a possível canonização do primeiro santo nascido no Brasil.

O milagre que permitiu ao papa beatifica-lo, todavia, não ocorreu durante a vida de frei Galvão, e sim há menos de dez anos, quando uma menina desenganada pela medicina, depois de engolir pílulas supostamente milagrosas, feitas segundo a receita do franciscano, recuperou a saúde, levando até hoje vida normal.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.