No ritmo da internet
[Crônica de 12 outubro de 2000]
Às vezes a gente, conversando com os amigos, ou com os filhos, de repente, se lembra de como era o mundo alguns anos atrás. Algumas poucas décadas que separam duas realidades opostas, distanciadas pouco mais de 30 anos, mas que marcam dois momentos impressionantes da história do homem no mundo e no Brasil.
Parece que foi ontem. Nós estávamos na fazenda em julho de 1969, quando os astronautas americanos desceram na lua. Nunca vou me esquecer da imagem ruim da televisão transmitindo o primeiro homem pisando na lua, para o interior do Brasil, então um país grande, mas com pouca importância no cenário internacional.
Foi uma época em que telefonar para Louveira, a menos de 80 quilômetros de São Paulo, levava mais de 4 horas, tempo que, aliás, demorava para ligar para o Guarujá.
Era mais fácil pegar o automóvel e ir até qualquer das duas cidades do que falar por telefone. Levava muito menos tempo e, com certeza, a conversa ficava mais clara, porque pelo telefone não se falava, se berrava, às vezes quase com raiva, com o outro lado, com a telefonista e até com o santo da devoção, para ver se a ligação melhorava e dava para entender o que o outro queria dizer, no meio do chiado infernal que fazia parte da ligação.
O roteiro da chamada era fantástico. Para se falar com Louveira o interurbano era o número 01. Contato feito, a telefonista, para ligar Louveira 7, chamava Campinas, que ligava para Jundiaí, que conectava Louveira, que, quando a linha não estava com defeito ou partida, conseguia finalmente, 4 horas depois, ligar a fazenda e minha casa.
Vendo a Internet e seu ritmo alucinado, cada dia mais rápido, unindo minhas filhas no Brasil com alguém sabe Deus aonde, eu fico imaginando como seria o mundo se as comunicações não tivessem evoluído tanto e ver o homem descer na Lua ainda fosse um quase milagre que pouca gente conseguia entender.
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