O Yuri se prepara para falar

[Crônica de 16 de dezembro de 1997]

Não há quem não tenha sido infernizado pelos carrinhos de pamonha que atravessam a cidade com seus alto-falantes aos urros, anunciando as delícias e poderes curativos da maravilha que, eu não sei por que, é feita em Piracicaba.

Piracicaba é famosa pelo seu salto, pelos peixes, pela piracema e pela cachaça, tida por muitos como uma das melhores de São Paulo.

As qualidades imbatíveis e fantásticas de suas pamonhas para mim foram novidade. Mas é assim mesmo que as coisas são, se Heródoto soubesse tudo, a história não teria sido inventada.

E como os carrinhos de pamonha andam se multiplicando pelas ruas de São Paulo, é crível que suas pamonhas realmente tenham algum poder milagroso, suficientemente forte para fazer-lhes a fama.

Mas se São Paulo foi tomada pelos carrinhos de pamonha, perto da casa do César Mateus a situação é outra e quem comanda o espetáculo sonoro é também um carrinho, mas que vende pães e ovos.

“Trinta ovos e vinte pãozinhos”, para ser mais exato. É isto aí: trinta ovos e vinte pãozinhos, exatamente como eu disse. Quem vende os pães é o dono do carrinho, portanto, ele os vende como quiser e se ele quer vendê-los como pãozinhos, o problema é dele, e da vizinhança que fica alucinada, mas, ao que parece, não por conta do erro ortográfico.

A loucura é por conta do barulho, que só alegra o Yuri, o cão siberiano do César Mateus, que vai aprendendo a falar graças ao vendedor de pães e ovos.

Seus progressos são tão impressionantes que o César já pensa em gravar uma fita com o Yuri falando, para mandá-la para algum programa de televisão e ver se fatura, por conta dos dons de fábula de seu animal de estimação, uma viagem com direito a acompanhante para algum lugar do país.

Como o Yuri só fala em resposta ao vendedor de “trinta pãozinhos e vinte ovos”, as gravações dependem de uma coordenação perfeita entre as três partes envolvidas: o carrinho urrando, o Yuri falando e o César Mateus com o gravador ligado.

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