Será que é mesmo assim?
Invariavelmente, o passado é mais gostoso e mais bonito. Mas será que é mesmo assim? Uma vez, numa dessas sessões de nostalgia, com gente escrevendo isso e mais aquilo para mostrar como na nossa juventude era mais alegre e mais feliz, minha prima Maiá escreveu: “Vocês estão esquecendo as tristezas e as dores que nós sentíamos, quanto choramos?”
Pois é… quantas vezes o mundo pareceu acabar em lágrimas e sofrimento? Quantas vezes nos sentimos perto do fim, seja lá o que isso quer dizer, quantas o coração se partiu vendo a mulher amada ir embora com seu grande amigo?
Uma das grandes vantagens do passado é que nele é possível selecionar o que queremos e o que não queremos guardar, o que vai ser lembrança. E, mesmo assim, não é um processo fácil. Volta e meia sobra uma quadra mal resolvida e uma raiva cega de alguém que não tem a menor ideia de que temos raiva dele.
O passado, no momento que foi presente, tinha todas as dúvidas e desafios do dia a dia no presente. Podia ser mais fácil viver, não ter que fazer força, além de estudar e passar de ano, mas, no resto, será que era fácil mesmo? Será que era tudo felicidade e alegria?
A grande vantagem do passado é que ele já passou. O que aconteceu, aconteceu. Então, vida que segue, de preferência guardando as boas recordações. Que são as nossas recordações, mas não serão as recordações de nossos filhos. E isso vale para tudo, de história de amor a filme de cinema, de música a série de televisão.
Muitas vezes é verdade, recordar é viver. Mergulhar de cabeça na lua cheia iluminado o mar, lembrar da namorada deitada ao seu lado no terreiro da fazenda é muito bom, resgata a alma, nos deixa felizes. Mas bom, bom mesmo é estar vivo e tocar em frente, levando as lembranças boas junto.
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