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Não tem para onde fugir

Não tem o que fazer. Como distração, você pode escolher entre ser assaltado, ver o motoboy arrancar o espelho retrovisor do carro na sua frente ou assistir o bate-boca entre os dois motoristas do outro lado da rua. 

Mais que isso é acreditar nos anjos e aí é complicado porque a hierarquia celeste é confusa e vai de arcanjo a querubim, passando por comandantes bem ou mal-intencionados, quando não completamente incompetentes e sem noção do que fazer com o apito que ele ganhou no sábado passado do marronzinho de folga.

Ah, desculpe! Essa também é uma alternativa. Procurar marronzinhos pode ser um passatempo interessante, já que você encontrará poucos, mas terá chance de procurar por bastante tempo, entre os prédios em construção, no alto das árvores, embaixo dos bueiros, enfim, em todo e qualquer lugar que não seja uma esquina congestionada.

Outra alternativa é contar quantas vezes o semáforo embandeirado pisca por minuto. É verdade que essa distração tem final rápido e pode ser que o trânsito não ande depois de você contar duas ou três vezes o ritmo das piscadas da máquina quebrada.

O fato incontroverso é que o trânsito da cidade de São Paulo extrapolou a pior projeção. Não há o que fazer, nem para onde correr. É ficar parado e ponto final. Qualquer alternativa estará tão engarrafada quando a rua em que você está.

Mesmo se lá na frente você enxergar uma esquina que dá para cruzar, não fique animado, nem se preocupe, até chegar nela alguém terá fechado o cruzamento, piorando tudo o que já estava muito ruim.

Dizem os entendidos que se pode rezar para Santo Adalberto do Cajado Grande. É verdade, pode, mas não vai resolver nada. Mas como rezar nunca fez mal a ninguém, ainda pode ser a melhor alternativa.  

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.