A primavera chegou
[Crônica de 1 de outubro de 1999]
A primavera chegou. Cercada de problemas de todos os tipos tentando escondê-la, sabe-se lá se de propósito, ou por mero acaso, o fato é que já é primavera, o que também pode ser sentido no corpo, com o frio bravo tendo ido embora, deixando um friozinho chato, de madrugada, marcando presença.
É uma das épocas mais belas do ano. E a gente acorda de madrugada, com um arrepio de frio, ouvindo os sabiás cantarem, e fica imaginando como estará do outro lado da janela, com o dia começando a mostrar a cara, numa primeira claridade que ilumina difusamente o céu, ainda recoberto pela noite, que aceita ir embora.
E sai de casa de bem com a vida, mesmo sabendo que vai enfrentar um trânsito do cão, porque a cidade tem mais carro do que rua.
E olha a cor do céu, mais azul e mais transparente do que no inverno, porque choveu e a chuva lavou o ar que a gente respira.
E vê a cidade com outro jeito, mais limpo e menos cinza, porque a primavera traz em si um tempo mais ameno.
Um tempo mais amigo, como se o canto de acasalamento do sabiá tivesse também outro sentido: o de auxiliar o homem a ser mais feliz.
Mas a primavera vai mais além. Ela explode nas cores deslumbrantes de centenas de tipos de trepadeiras, começando pelas primaveras, que enchem de cores os muros da cidade, dando-nos a ilusão de que a violência, num passe de mágica, ficou de fora e não volta nunca mais.
É primavera porque a terra gira ao redor do sol.
Mas também é primavera porque os meses duros do inverno deram lugar a dias gostosos, ainda distantes do calor abafado do verão, que batem no fundo da alma, abrindo o peito para o ar que entra, carregado de vibrações boas.
É primavera. Que bom que ela voltou.
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