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Marginal Pinheiros nos anos 60

[Crônica de 3 de agosto de 2004]

Meu amigo Élson Velloso de Luna me mandou uma foto que virou protetor de tela do meu computador. Ela mostra a Marginal Pinheiros de noite, numa perspectiva dos anos 60.  

Ah, que diferença! Só ela é suficiente para mostrar o que aconteceu com essa cidade e como as coisas pioraram, até chegar na cobra imensa e sem fim, em que as ruas se transformaram, uma ligada à outra pelos fachos dos faróis acesos, batendo no carro da frente, ininterruptamente, quase até o infinito, dando volta em cima deles mesmos.

Na década de 60 eu usava a Marginal Pinheiros para ir para Interlagos, quando meu amigo Raul Natividade corria de kart e, às vezes, acho que por falta de opção, eu era o mecânico dele.

Normalmente, no caminho, nós parávamos em alguma padaria, tomávamos café com leite, comíamos pão com alguma coisa, além da manteiga que derretia quentinha, e depois tocávamos para o kartódromo, onde o Raul corria. 

Era uma época boa. Dava para andar nas ruas, ninguém tinha muito medo de assalto, e os carros variavam de fuscas a opalas, passando pelos galaxies, pelos corcéis, e pelos darts, que eram os que corriam mais, com seus enormes motores V8, ou coisa que o valha, roncando feito lanchas pelas ruas de São Paulo.   

A marginal do Pinheiros na foto que o Élson me enviou é o retrato de uma rua boa, de uma cidade grande que ainda não perdeu o carinho por seus moradores.

Hoje a Marginal Pinheiros é uma fábrica de loucos, que massacra quem se arrasta por ela, a menos de 10 quilômetros por hora, compondo uma ínfima parte do corpo informe da serpente que engoliu a cidade.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.