As jabuticabas se foram

A vida segue em ondas, em etapas, em momentos. Agora, o momento das jabuticabas chegou ao fim. Quem dá o tom são as amoras, que também se preparam para partir, abrindo espaço para as pitangas, que ainda não chegaram, mas estão prontas para chegar.

Jabuticaba boa é jabuticaba comida no pé. Cuidadosamente tirada do galho da árvore, uma depois da outra, até formar um montão de cascas caídas em volta da jabuticabeira.

Cada planta é uma planta, cada fruta é uma fruta. Ao contrário das jabuticabas, as amoras não têm casca, se come a fruta inteira, sem jogar nada fora. E as pitangas exigem uma terceira técnica, na qual, depois de comer o recheio da fruta, se cospe o caroço.

São Paulo é uma cidade curiosa. Tem gente que fala que tem pouco verde, mas, se caminhar pelas ruas prestando atenção, verá que existe uma quantidade muito maior do que a imaginada de árvores, arbustos e plantas em geral.

Parte delas é frutífera, o que faz a festa dos passarinhos e das pessoas que olham com cuidado e descobrem as frutas penduradas onde a maioria das pessoas não vê nada, até porque não está procurando. A pressa não deixa, o olhar o próprio umbigo não permite.

As pessoas não têm tempo para bobagens como essa. A correria da cidade grande é cruel, faz esquecer os momentos amenos, a poesia que vive em volta e que se mostra, mas nem todo mundo percebe. Nem todo mundo se dá conta da beleza e da magia que poderia fazer os dias mais bonitos, mas que, por não serem vistas, tanto faz.

As jabuticabas se vão, as amoras se preparam para ir. Que venham as pitangas, vermelhas e gostosas, boas de se comer no pé, como as jabuticabas!

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