Máquina de fazer loucos
[Crônica de 27 de julho de 2006]
O mundo moderno chegou num tal ponto de dependência que ninguém mais vive sem computador e telefone celular. Apesar de infernais, de só funcionarem quando querem – como os bancos que só oferecem dinheiro para quem não precisa – os computadores e telefones celulares são parte integrante da vida de todos, seja índio, seja cacique.
Se alguém acha que dependência de droga é coisa séria, é porque ainda não prestou atenção no que vai acontecendo no campo da dependência física e psíquica dos computadores e telefones celulares.
Cocaína, morfina, heroína, maconha, todas são fichinha perto de um celular de um modelo novo, com câmera fotográfica e baixador de MP3.
Ninguém resiste ao brilho enganoso de um laptop na vitrine de uma loja, olhando fixo para você como que dizendo: me leva, me leva, me leva. Comigo sua vida vai mudar. Eu sou melhor que sexo, que jogo, que bebida, que carnaval. Eu sou o senhor dos senhores. O dono da felicidade, o encantador de cabeças. Me leva, e sua vida será outra.
E o ser humano, hipnotizado, leva. Compra a maquininha diabólica e arruma um jeito novo de descobrir que o inferno é muito mais sutil e mais cruel do que parece.
Que a palavra sofrimento pode ter um significado mais longo e mais dolorido. Que a felicidade que estava próxima com a chegada da máquina vai embora, apavorada com o que pode acontecer.
É quando as máquinas não funcionam e o dono descobre que matar é fácil, e que a tortura não saiu de moda, nem foi banida da vida na terra. Aí vem uma imensa saudade da época em que as calculadoras eram a manivela e as máquinas de escrever não conheciam a luz elétrica.
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