A atração do mar

[Crônica de 16 de maio de 1998]

Ah, o mar!… a atração do mar!… as ondas arrebentando nas rochas e o estrondo de sua fúria ecoando ao longe….

Mar, imensidão de água embalando sonhos que se escondem nas cavernas submarinas onde Nereu dorme seu sono eterno, desde que Cristo morreu na cruz.

Mar, mar das lendas e da imaginação maior do que ele que o faz diferente sendo o mesmo e vário sendo único.

Verde, azul, cinza, sua cor é sempre outra sob os reflexos que o transmutam e que se extinguem quando chegamos perto.

Mar, fonte da vida que tanta vida desconhece.

imagine só que a mulher mais velha do brasil, segundo d. Virgínia, só foi conhecer o mar no ano passado, quando já tinha mais de 126 anos de idade! E, no entanto, fico imaginando se ela sonhava com ele, se ela, nas noites escuras do interior, vendo as estrelas traçarem rotas que ela não sabe que conduziam os navegantes, ficava imaginando como seria o movimento das ondas e que som teria o seu bramido.

Se ela conseguia imaginar como são as praias onde as ondas mansamente embalam seus segredos, ou se conseguia sonhar com os peixes nadando, perto das ilhas, por entre o fundo colorido.

Como será que dona Maria do Carmo Gerônimo, vivendo no interior do país, se sentiu ao ver o mar?

Será que se comoveu? será que ao encontrá-lo o enxergou como ela sempre o imaginara? será que o barulho de suas águas era o barulho que ela, escutando os rios, em seus momentos de paz, criara para ele?

O mar é único e sempre outro. suas águas desenham praias que no dia seguinte já não são as mesmas. Recorta costas que os séculos transformam em outras. se afasta para que ilhas surjam onde ontem passavam suas correntes.

Será que dona Maria do Carmo Gerônimo, ao longo de sua longa vida, compreendeu que o mar é como a própria vida?
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