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A USP de manhã

[Crônica de 2 de agosto de 2001]

A USP de manhã cedo, durante as férias, é um dos lugares mais gostosos de São Paulo. Com pouco trânsito, andar pelas suas ruas é um prazer e faz bem para a saúde, com o ar puro entrando pelo nariz e se espalhando numa sensação boa por todo o corpo.

Qualquer roteiro, nesta época, é bom. Os carros que circulam pelo seu interior não atrapalham, nem têm a sofreguidão e a pressa dos carros que atravessam suas avenidas nos dias normais do ano.

Assim, o silêncio dos motores, a bel paisagem da fazenda com ocupação pouco densa, a arquitetura de alguns de seus prédios, fazem do passeio, de manhã cedo, um prazer e o melhor remédio para se aguentar o massacre do resto do dia.

Mas, quem sabe, o melhor da festa de uma caminhada pela USP sejam os pássaros. Pássaros de todos os formatos e tamanhos, de cores as mais inusitadas, de voo longo e de voo curto, cantores ou não, se espalham por toda a Cidade Universitária, numa festa deslumbrante para quem anda sem muita pressa, ou pelo menos, olhando para os lados.

São milhares, começando pelos bandos de periquitos, que passam voando em algazarra, de um lado para o outro, atrás das palmeiras onde pousam para comer os coquinhos.

Além dos periquitos, os quero-queros também estão tomando conta do pedaço. Dezenas deles se espalham pelos gramados, ou ficam voando lentamente perto do relógio, sempre em pequenos bandos, gritando sabe Deus com quem, enchendo a manhã com seu berro estridente e que há muito não se escutava em São Paulo.

E os sabiás, e os bem-te-vis, e os anuns, e as rolinhas, também ocupam o espaço, na sua vida muito mais fácil dentro da cidade do que nos campos e nas matas. Até os gaviões trocaram de endereço e é fácil vê-los, convivendo pacificamente com as outras aves, furando os sacos de lixo, para comerem sem muito esforço.
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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.