Ano bissexto

[Crônica de 1 de março de 2004]

De quatro em quatro anos fevereiro tem 29 dias. É uma conta de chegada para acertar nosso calendário ao movimento do sol, mas é também fonte de superstição e de estórias estranhas, que insistem em acontecer nos anos que fevereiro tem um dia a mais.

Seria também o aniversário do Seu João do Val, pai do meu amigo Joãozinho do Val, que morreu com bem mais de 80 anos, mas que se tomasse por base o dia 29 de fevereiro, teria morrido bem mais moço.

Na prática, na vida das pessoas, o ano bissexto não muda absolutamente nada. É um ano como qualquer outro, só que com um dia a mais, o que faz a gente dar duas voltas a menos nos relógios analógicos.

Mas é sempre curioso pensar que é de novo ano bissexto. Se por um lado dá uma sensação estranha de tempo passando cada vez mais depressa, por outro tem qualquer coisa de onírico, de sonho de criança, de fantasia, como se trouxesse associada a ele a possibilidade real do mundo do faz de conta, da terra do nunca e das fadas e das bruxas lutando pelo controle do planeta.

O ano bissexto, quem sabe pelo nome complicado, é um ano diferente. Pode ser que seja também porque ele acontece de quatro em quatro anos, e essa demora – que sempre passa mais rapidamente do que desejaríamos – faz dele uma coisa quase tão estranha como um cometa em sua órbita, visitando a terra sei lá de quanto em quanto tempo.

Dividindo minha idade por quatro anos, este é o quase décimo terceiro ano bissexto da minha vida. Portanto levando a data ao pé da letra, se tivesse nascido em 29 de fevereiro em vez de nascer em agosto, eu não poderia dirigir porque não teria carteira de motorista.
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