A terceira certeza
Desde que a humanidade desceu das árvores e se estruturou em sociedade organizada, nós temos duas certezas absolutas: a primeira é que vamos morrer e, a segunda, é que vamos pagar impostos enquanto estivermos vivos.
Todas as demais certezas são quase certezas, que normalmente terminam com final melancólico. Não é preciso ir além das milhares de certezas do amor eterno do ente amado que um belo dia vai embora para não precisar encompridar a história.
As meias certezas são importantes porque durante um tempo nos dão a esperança ou a ilusão de que é assim ou assado e isso nos empurra, na crença de que vai dar certo e tudo terá final feliz.
Daí pra frente é questão de sorte, do destino decidir para um lado ou para o outro. Segurar um minuto a mais, que faz a diferença e garante o final feliz, ou não.
Mas o que era certeza absoluta agora está ameaçado. A certeza da morte e do pagamento dos impostos como única certeza absoluta corre o risco de ser superada por uma nova certeza, mais complexa, porque envolve uma terceira certeza.
A Enel, a distribuidora de energia da Grande São Paulo está investindo pesado na criação desta nova certeza e, no ritmo que vai, tem tudo para emplacar.
A certeza proposta pela Enel é simples, direta e causa danos e incômodos de todas as naturezas. Vai faltar luz! É definitivo, cabalístico, irretocável e indiscutível.
Vai faltar luz! Não é mais preciso ventos e chuvas, tempestades ou céu cinza. Não, a proposta é mais ambiciosa. Faltar luz sem precisar nada. Faltar luz com dia claro, céu azul e sem vento. A terceira verdade chegou.
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