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Novas igrejas interditadas

E o impossível, mas previsível, aconteceu. O forro da Igreja de São Francisco, na Bahia, um dos mais importantes monumentos do barroco mundial e com certeza o mais impressionante no Brasil, simplesmente caiu. Veio abaixo, matou uma turista e ninguém fez cara de espanto. De dó, sim. Afinal, a queda do forro da igreja é apenas a prova do descaso com que autoridades laicas e eclesiásticas tratam os monumentos sob sua guarda. Há anos se sabia que a Igreja de São Francisco precisava de reparos mais profundos do que a pintura da fachada. Ninguém fez nada. Todos empurraram para o próximo, como se o próximo estar próximo fosse suficiente, pelo menos para tirar o dele da reta.

A falta de comprometimento com a preservação da história, do acervo artístico, dos legados do passado não precisava desta tragédia para ficar escancarada. Em vez de São Francisco podia ter sido uma capelinha de 200 anos perdida no interior de algum lugar. Pelo menos o prejuízo seria menor.

O duro é que agora vai começar o empurra-empurra para o restauro do forro e reforma da igreja. Se daqui a dez anos tiver alguma coisa feita será milagre, intervenção direta do santo. Conhecendo nossas entidades de preservação do patrimônio, histórico, artístico e arquitetônico, não é preciso nenhuma bola de cristal para ter certeza de que não vai andar.

Mas esse é só o começo da história. Não sei se por vergonha na cara ou medo do vexame, resolveram inspecionar outras igrejas em Salvador e o resultado foi a interdição de nove delas, todas em estado precário e ameaçando cair a qualquer momento.

O fantástico é que este acervo está lá à disposição de quem quiser ver. A falta de manutenção não está escondida, está estampada nas fachadas deterioradas. Mas as autoridades baianas e federais e a igreja não viram. Para eles, arte é axé e carnaval.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.