O absurdo tem cara
É assassinato. O que aconteceu com a menina que morreu depois de cheirar desodorante é assassinato. Com todas as tipificações e qualificações do crime. Começando por ser uma menina até a crueldade do meio adotado para consumar o delito.
A internet não é brincadeira de criança. A internet mata, e mata com requintes de crueldade, como convencer uma menina a cheirar desodorante. A simples ideia do fato ultrapassa todos os limites. Não há nada que possa reduzir o dolo deliberado do criminoso que a induziu a fazer o que ela fez.
Será que alguém poderia fazer algo para impedi-la? Difícil dizer. O “se” não existe no mundo real, o “se” faz parte das possibilidades que não aconteceram, da fantasia ou da vontade de arrumar o mundo, mas fora do cotidiano, fora do que de fato acontece, com toda sua beleza ou toda sua crueldade, no dia a dia das pessoas.
Ninguém pode dizer que os responsáveis por ela queriam que acabasse assim, que não se preocupavam com ela, que não a amavam. A resposta não caminha por esse lado, não, ela está no lado de lá. Depois da ponte, na certeza de que eles jamais pensaram uma coisa parecida, um fim tão cruel, tão trágico, tão fora de tempo e lugar.
Eu não sei o que leva um ser humano a fazer o que fizeram com essa criança. Aliás, não sei se se pode chamar de ser humano quem faz uma coisa dessas. Quem induz uma criança a cheirar desodorante, movida por uma aposta sem qualquer sentido.
Existem situações em que um engano pode ser invocado para minimizar uma ação, mas, no caso concreto, isso não existiu. A menina foi levada a praticar o ato que tirou sua vida deliberadamente. De propósito! Quem fez isso não tem perdão, nem progressão da pena por bom comportamento.
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