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A reforma para trás

[Crônica de 6 de maio de 2002]

A prefeitura pretende reformar a praça da Biblioteca, na cidade. A praça D. José Gaspar é das praças mais tradicionais de São Paulo, com o prédio da biblioteca Mário de Andrade compondo um cenário único com árvores e estátuas e engraxates, que há décadas dão uma vida toda especial para um lugar diferente, até hoje, mesmo com o centro decadente, sofisticado.

Aliás, a praça D. José Gaspar não é a única região daquela parte do centro que é bonita e tem personalidade. Mais ou menos perto dela, a avenida Vieira de Carvalho, a praça da República e o largo do Arouche se destacam, também com um brilho especial, ainda que cercados por sujeira e descaso.

A praça D. José de Barros homenageia antes de todos, o arcebispo D. José Gaspar, que morava ali, quando o lugar era o jardim da sua casa. Mas homenageia também autores como Camões e Dante, e o jornalista Julio Mesquita, que no ano do seu centenário, teve um busto inaugurado nela, quase na esquina da São Luiz com a Xavier de Toledo, olhando para o prédio que era a sede do jornal O Estado de S. Paulo. 

Pois a prefeitura quer reformar a praça e fazer dela uma praça europeia, ou melhor, parisiense, o que, no passado, ela já foi, quando era o ponto de encontro de artistas e jornalistas que se reuniam no Paribar, que eu não conheci, mas que marcou as estórias da cidade.

É uma notícia ótima. Afinal, recuperar alguma coisa por aqui está tão raro que ser surpreendido pelo anúncio da reforma da praça me encheu de orgulho e de esperança, pela recuperação do centro velho que é a região mais bonita desta metrópole ensandecida, que se autodevora todos os dias.

A única coisa que não ficou muito clara foi a informação de que na reforma serão sacrificadas mais de cem árvores. Afinal, que reforma europeia é esta que tira árvores de uma cidade quase que completamente cinza?
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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.