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Os espertos na direção

[Crônica de 19 de março de 2002]

É fácil reconhecer um. Ele normalmente anda no meio de duas faixas, atrapalhando todo mundo, esperando para ver qual a que vai tomar, quando o trânsito para. Também é fácil reconhecer quando ele vai para a pista da esquerda porque é a que está andando, para lá na frente tentar entrar à direita, parando o fluxo que segue em frente, enquanto ele fura a fila da direita.

São os espertos na direção. Gente que por um motivo qualquer acha que pode fazer o que quiser, como se as ruas fossem deles, porque pagam mais IPVA, ou alguma outra razão tão aleatória e estúpida, como a forma que dirigem.

O duro é que não tem o que fazer. O número deles vai crescendo dia a dia, sem chance de controle, exceto se a CET decidir colocar os marronzinhos para ajeitarem o trânsito e não apenas para multar.

É evidente que os espertos precisam ser multados e as multas precisam ser altas. A função da multa não é só aumentar a arrecadação da prefeitura, é ser didática também. Doendo no bolso, o esperto vai pensar duas vezes antes de fazer uma esperteza.

Enquanto a CET insistir nas regras atuais, onde os marronzinhos ficam na esquina errada, vendo de longe o nó se armar na esquina que eles não estão, não tem jeito, os espertos da direção continuarão sua escalada em direção ao caos absoluto, que, eles não percebem, é o único lugar onde conseguirão chegar.   

O que diferencia uma sociedade desenvolvida de uma sociedade em desenvolvimento é o respeito pelo próximo. Enquanto quiserem levar vantagem e forem um número alto entre os motoristas da cidade mais rica de um país, os espertos da direção estarão impedindo o Brasil de entrar no primeiro mundo, porque esta conta não é feita pelo dinheiro que cada um tem, mas pelo respeito que cada um tem. E aí é completamente diferente, porque respeito quer dizer ordem e sem ordem, como está escrito na bandeira nacional, não há progresso.
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Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.