O poder do pudim de pão
[Crônica de 28 de junho de 2002]
É impressionante, mas o poder do pudim de pão, mesmo numa cidade como São Paulo, vai muito além do razoável. Só quem comeu pudim de pão na infância entende o que eu quero dizer. Para quem não teve esta sorte, a comparação pode ser feita com quase tudo, menos nhoque, porque nhoque não existe e ninguém pode ter lembranças e muito menos comparar, aquilo que não existe.
Eu sei que tem gente que garante que come nhoque, que tem gente que inclusive vende nhoque, mas é tudo ilusão, porque, de verdade, nhoque não existe, o que no remete para outra discussão, da maior importância e com consequências terríveis. O que é verdade e o que é ilusão? Sei lá, eu sou um simples mortal, permanentemente atônito com as dimensões do universo e com o imponderável da vida.
Com certeza eu sei que gosto de goiabada com queijo, mas, quem é que disse que goiabada com queijo é mais real, ou tem mais consistência do que nhoque?
É apavorante. Simplesmente apavorante. Mas a vida não se preocupa com os medos de quem vive, e segue em frente na cadência do tempo ultrapassando os limites do infinito.
Então o jeito é pensar que goiabada com queijo é bom, que morango flambado com sorvete de creme é bom, que morango em calda, com guaraná caçulinha lembra a casa da minha avó e que a torta de maça da Lurdes, cozinheira na casa de minha mãe, era a melhor torta de maça do mundo.
São certezas inabaláveis, como a lembrança da menina sentada debaixo da enorme figueira, me esperando na noite escura de um passado recorrente, quando a vida era mais fácil e mais leve.
Goiabada com queijo. Daquela de fazenda, cascão e com queijo de minas fresco, comida derretida, logo depois de um prato de arroz com feijão, bife, batata frita e muita, mas muita, mesmo, paz.
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