O Itamarati e outras lembranças
Comendo uma omelete, me lembrei do restaurante Itamarati, no Largo do Ouvidor, no Centro Velho, próximo da Faculdade de Direito. Durante décadas eu almocei lá, invariavelmente, omelete. O Itamarati foi um marco na história de São Paulo. Muito antes de pensar na Faculdade de Direito e depois em almoçar no Itamarati, o restaurante já era ponto de encontro, principalmente de operadores do direito e boêmios que frequentavam o centro da cidade.
Eu gostava do Itamarati. Ia lá encontrar amigos ou sozinho, o que fazia toda a diferença nos lugares que me sentava. Com amigos, normalmente ficava mais para a esquerda de quem entrava; sozinho, ficava no lado direito, mais para o fundo do salão. O que não mudava era minha preferência pela omelete de queijo, às vezes queijo e presunto.
O Itamarati não superou a covid19. Já vinha decadente antes. Com a pandemia, simplesmente não deu conta, mesmo com a Santa Casa, proprietária do imóvel, abrindo mão do aluguel, em homenagem à tradição do restaurante.
Como lembrança puxa lembrança, na sequência da omelete do Itamarati, me lembrei do Maranduda, um quarteirão para frente, na Rua José Bonifácio. O Maranduba fazia o melhor sanduiche da cidade. Você chegava no balcão, pedia um “inventado” e comia um sanduiche dos deuses. Não precisava se preocupar com o recheio. O sanduiche era preparado de acordo com a vontade dos seus “especialistas”, que iam pegando ingrediente depois de ingrediente e misturando tudo no pão “na canoa”.
E veio a Casa Califórnia, na Rua São Bento, que preparava um sanduiche de linguiça mágico e vendia a melhor linguiça da cidade. Eram outros tempos, a cidade tinha outro ritmo. Ali perto ficava o Ouro Velho e sua lula recheada… O Centro Velho, de dia, era o centro da vida.
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