A arte nas ruas
A arte é dona das ruas. Desde os tempos mais antigos, a arte é a dona das ruas. Ou divide o seu espaço para criar beleza, sonho e encantamento, ocupando lugares que de outra forma não teriam o apelo que a arte transmite e faz o ser humano refletir, se encantar, encontrar beleza e viver a beleza que, de fora, se entranha em sua mente e cria na rua, muitas vezes suja e maltratada, a magia de um momento único, que resgata a lembrança atávica da época do Paraíso.
Os Campos Elíseos deveriam sempre lembrar lugares calmos, onde as almas habitam em eterna harmonia, depois de encerrar a jornada humana sobre a terra. Ou levar a Paris e sua famosa avenida, com o Arco do Triunfo no alto da colina marcando o ritmo da cidade.
Mas não. Em São Paulo, os Campos Elíseos plasmam outra realidade. O feio, o sujo e o maltratado somam esforços para enquadrar a miséria humana que segue em ondas para lá e para cá, pelas antigas ruas que já foram as mais nobres da cidade, mas que hoje se transformaram em palco para o que a vida tem de feio e que se espalha pelo bairro.
Pintar é preciso. Não camuflar a realidade com as cores de um arco-íris de filme de cinema, mas enfeitar os muros e alegrar a vida. Transformar a realidade, mostrar que, dentro da realidade, é possível existirem outras realidades diferentes e diversas, capazes de trazerem sonhos novos e bons para um mundo onde o cinza e a dor recriam o drama do tártaro, com suas almas condenadas e eternamente torturadas.
Foi isso que a artista plástica Verenea Smit fez em dois muros dos Campos Elíseos. Ela resgatou, com sua arte instigante, a possibilidade de se encontrar um novo universo, dentro de um muro pintado, como pontos de interrogação lançando uma rede que extravasa os muros e pesca a percepção do ser humano, reinventando a vida, a capacidade de sonhar.
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