Luzes
[Crônica de 24 de junho de 2001]
Faróis altos passam pela avenida larga cegando quem vai na outra direção. É impressionante a falta de respeito com que os motoristas usam farol alto, ou não regulam as luzes de seus carros.
Luzes fracas balizam o caminho de quem busca alguma segurança pelas ruas de um bairro de periferia. Avenidas modernas debaixo de postes gigantes recebem a soma de luzes fortes como um sol artificial que as deixa mais claras do que o dia, nas antevésperas das tempestades de verão.
Casas refletem suas vidas pelas luzes das janelas. Apartamentos imitam as casas, revelando nas luzes que se acendem e se apagam os pequenos dramas, mais terríveis do que as imensas tragédias.
São Paulo é uma enorme bola de fogo tentando humilhar o sol, depois de abafar o brilho da lua e espantar as estrelas.
Fora da cidade a noite tem estrelas e no momento certo, a lua cheia brinca de escondê-las, se impondo redonda como única dona do céu. Na cidade, não. Na cidade a noite tem poucas estrelas e a lua cheia volta e meia é confundida com uma luminária de luz fria, desgarrada numa paisagem improvável.
Mesmo assim, tem certas noites mágicas que ganham das luzes e dão o troco numa lua cheia deslumbrante saindo de trás do horizonte curto, balizado pelos prédios.
Então, é uma cena impressionante. Imensa, a lua se vinga da humilhação de, pelo resto do ano ninguém se lembrar que ela existe.
___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.