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Uma guerra curiosa

A guerra da Ucrânia é no mínimo uma guerra curiosa. Não é uma guerra inédita, mas uma guerra curiosa, fora do desenho das últimas guerras que ensanguentaram a Europa, a saber, as duas guerras mundiais e a guerra civil espanhola.

Estes três conflitos fogem da tradição multicentenária das guerras no continente europeu. Guerras que eram guerras, com sangrentos combates, mas que não impediam a vida quase que normal e as relações cordiais entre cidadãos e governantes das nações em guerra.

Acontecia inclusive de dois países se enfrentarem sem que as respectivas embaixadas fossem fechadas. Afinal, uma coisa era uma coisa e outra coisa é outra coisa. “Só porque estamos em guerra não precisamos romper relações ou deixar de nos falarmos”.

É exatamente isso que acontece na guerra da Ucrânia. O fato da Rússia invadir o país vizinho não é razão para as nações que apoiam a Ucrânia, inclusive fornecendo armas de última geração para serem utilizadas contra os russos, deixarem de ter relações ou comércio com o país de Wladimir Putin. Não, cada coisa em seu lugar. Guerra é guerra, vida que segue é vida que segue e o povo quer gás e petróleo.

A única verdade absoluta nessa história é que em bom português ninguém está muito preocupado com o destino da Ucrânia. O que está em jogo é uma aposta muito mais alta, capaz de definir o desenho do mundo nas próximas décadas e com certeza americanos, europeus, russos e chineses não vêm a Ucrânia como peça-chave nessa equação.

O problema não é deles, é nosso. A guerra está cobrando um alto preço do mundo, mas ele é mais alto para países como o Brasil. Nós não temos estratégia para o país, política externa minimamente estruturada, influência política ou relevância militar. A parte cara da conta será nossa.

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Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.