O córrego limpo
São Paulo é um lugar inusitado. Desde seu começo, as coisas aqui acontecem de forma diferente das outras regiões do país.
Ao contrário de Rio, Bahia e Pernambuco, em São Paulo a miscigenação não se deu entre brancos e negros, mas entre brancos e indígenas. Até o final do século 18 se falava a língua geral nas casas de família. O português era usado apenas nas atas da Câmara.
Mas a melhor forma de se entender as diferenças é lembrar que São Paulo está a cem quilômetros do mar e as outras capitais são cidades litorâneas. Seguindo o curso do Tietê, os paulistas olhavam o interior, enquanto os moradores das demais Capitanias miravam o Atlântico.
A vila foi erguida de modo a ser protegida contra eventuais ataques por dois rios e pelas escarpas de uma colina íngreme. Tamanduateí e Anhangabaú formavam uma defesa natural para proteger a pequena comunidade. E centenas de rios e córregos, integrantes da bacia do Tietê, cortavam o planalto e suas várzeas, tornando a terra fértil.
Hoje, grande parte desses rios está canalizada, debaixo da terra, muitos praticamente desconhecidos, agravando o problema secular das enchentes nas regiões de várzea.
E a poluição também cobra seu preço. A sujeira e o lixo jogados nos leitos dos cursos d’água dificultam o escoamento dos excessos das chuvas, inundando vastas áreas da cidade. Essa água fortemente poluída corre pelo planalto e engrossa a poluição do Tietê.
É aí que vem a boa notícia. Entre todos os cursos d’água que cortam São Paulo, um está limpo. É o Córrego do Sapateiro, que nasce na Vila Mariana e desagua no lago do Ibirapuera. Ele é a prova de que é possível cuidar da natureza. A qualidade de sua água é fruto da parceria entre os moradores em volta de suas margens e a Prefeitura da cidade.
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