Paulo 99
No dia 30 de setembro o poeta Paulo Bomfim teria completado 99 anos. Ele não chegou lá, partiu antes. Em 7 de julho de 2019 o poeta decidiu que era hora de sair dessa vida e foi se encontrar com seus antepassados que não retornaram do sertão, mortos nas longas marchas dos bandeirantes arrancando do continente para a coroa portuguesa 4,5 milhões de quilômetros quadrados.
Por que a crônica? Porque 99 é número magico, 18, cabalístico, numerologicamente perfeito, o começo e o fim, o encontro das paralelas na distância do horizonte, onde o poeta está sentado na varanda da Fazenda Himalaia que tem no céu, ouvindo o urro das onças quebrarem a paz da eternidade.
Aos 92 anos Paulo Bomfim foi-se embora. Escolheu o dia com carinho, 2 antes da comemoração da Revolução de 1932. Ele nunca empanaria o brilho da lembrança da luta paulista com a tristeza da sua morte dividindo o espaço com a grande data.
Não, Paulo tinha consciência das coisas. Não misturava um tema com outro, muito menos se ele fosse parte da trama. Ele era sua maior poesia, não tinha sentido misturar os versos da sua vida com a prosa do mundo.
Ele era do mundo, mas acima de tudo paulista. Antes de qualquer antes, a terra de Tibiriçá, João Ramalho, Nóbrega e Anchieta era o chão sagrado onde ele tinha nascido, vivido e amado. Paulo era fundamentalmente paulista, por mercê de Deus e escolha sua.
Ele não tinha medo da morte. Tinha pudor diante dela. Sabia que sua hora estava chegando e tomou as providências necessárias para passar por ela com a dignidade que sempre fez parte dele.
Dia 30 de setembro estaria completando 99 anos. No ano que vem serão 100. A data não vai passar em branco.
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