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O denso nevoeiro das madrugadas

Esta época do ano é especial. É como se os filmes de terror com Jack, o Estripador encontrassem a locação perfeita, não em Londres, mas em São Paulo, que já foi da garoa, mas só preservou o antigo nevoeiro.

Certas madrugadas tem o horizonte mais curto do que um quarto no escuro. A iluminação dos postes não consegue mais do que criar um clarão de ficção científica, uma luz baça como os antigos lampiões que iluminavam o braço do assassino descendo a faca no pescoço da mulher andando com medo pelas ruas vazias, onde seu corpo será encontrado na manhã seguinte, quando a luz do sol dissipar o nevoeiro e mostrar o crime em toda sua brutalidade.

O nevoeiro que encobre São Paulo às vezes é denso como manteiga, gordo, opaco, capaz de limitar os potentes faróis dos carros modernos, esconder a menos de 20 metros todos os perigos verdadeiros e imaginários que apavoram os que caminham a pé e preocupa os que seguem de automóveis, hipoteticamente mais protegidos, até o ônibus sair do nevoeiro onde não deveria estar.

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Tem gente que tem que caminhar pela cidade no começo da madrugada. Não conheço ninguém que faça isso sem medo, sem muito medo, das almas vivas e penadas que assaltam ou assombram.

Tem quem prefere o assalto. A coisa acontece. A moto surge do nada, no meio da neblina, o garupa aponta a arma, pega o celular ou a carteira e seguem em frente. Há um fato concreto, uma violência que acalma os sentidos. Fui assaltado, ainda bem que não aconteceu nada mais sério.

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É mais fácil do que lidar com o desconhecido, com a possibilidade do estripador sair da névoa e fincar a faca no seu peito. Do medo do desconhecido que está do outro lado do nevoeiro. A nevoa assusta, mas tem também uma beleza especial, que hipnotiza e faz esquecer o medo.

Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.