O perigoso é o pernilongo
Tem quem ache que perigoso é um elefante enfurecido. Outro, que é o crocodilo de água salgada da Austrália. Tem quem diga que é o leão sem juba de Tsavo. E os que lembram dos tigres da Sibéria.
Tem os que têm pânico do mar, então colocam as orcas em primeiro lugar. Ou os tubarões brancos. Enquanto os que realmente sabem das coisas citam o tubarão cabeça chata. E tem quem veja nos cachalotes perigo iminente, mais por conta de Moby Dick do que com base na realidade.
E tem o grupo dos que temem répteis e animais venenosos. Os que ficam arrepiados só de pensar no estrago feito por uma naja ou uma mamba negra, se esquecendo das enormes surucucus sul-americanas.
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Os especialistas, lembrando de acidente acontecido meio século atrás em Itanhaém, pensam logo nas raras e mortíferas corais verdadeiras, que enganam até os diretores do Instituto Butantã.
E os fãs dos filmes de caubói logo têm em mente o chocalho sinistro de uma cascavel ou uma aranha negra e peluda, pronta para dar o bote.
O que não falta são animais perigosos, capazes de matar o ser humano sem se preocupar com consequências ou remorsos.
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Mas um amigo, caçador famoso, depois de quarenta anos, descobriu que perigoso, mas perigoso mesmo, são os pernilongos. Não, na conta não entram outros mosquitos, abelhas, moscas e marimbondos. Perigosos de verdade são apenas os pernilongos.
Ele sabe porque quebrou o cotovelo numa caçada a um pernilongo matreiro, cheio de truques, que morreu, mas quase o levou junto, quando, num movimento inesperado, voou em sua direção, fazendo com que caísse da cadeira aonde havia subido para caçar o monstro. Antes de cair, acertou a raquetada mortal, mas, na queda, quem quase morreu foi ele, que, por sorte, só quebrou o cotovelo, luxou o quadril e ficou com o corpo roxo.
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