Os dias de outono
Os dias de outono normalmente são os dias mais bonitos do ano. Sua luminosidade transcende qualquer explicação e precisa ser vista para ser compreendida. Depois disso, os dias de outono entram no nosso corpo, se entranham na nossa pele e tomam de assalto a vontade de fazer ou não fazer.
O azul profundo do céu abre caminho para viagens interestelares, para o conhecimento mágico de galáxias distantes perdidas em outros universos, para o sonho e para a possibilidade do espanto.
Nos dias de outono as flores dos ipês balançam moles nos seus galhos embalados pelo vento.
E um cheiro bom de terra recém parida sobe dos gramados e dos jardins, começando a perder o verde intenso dos meses de verão.
A vida segue um ritmo todo próprio, meio aleatório, quem sabe, conduzida pela mudança do clima, de um calor ainda forte para um frio mais intenso ainda.
Ventos mudam a direção das nuvens. E as aves voam pelo céu seguindo o curso de rotas desconhecidas.
Frutas tão estranhas como os caquis abrem a festa de seus sabores, dividindo os espaços das mesas com mexericas deliciosas.
E as pessoas – ah, as pessoas – se tivessem juízo, aceitariam o ritmo da estação para viverem melhor, dormindo na maior parte dos dias noites amenas; como contrapartida para passeios por manhãs únicas, onde cada momento tem o condão de se transformar rapidamente num instante completamente diverso.
Ah, o meio dia dos dias de outono. Só algumas nuvens correm o céu, colocadas de propósito para dar profundidade às chances de ser feliz.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.