Um crime bárbaro
É estarrecedor você ficar sabendo que uma jovem foi morta numa trilha entre as praias de Maresias e Paúba, no litoral norte de São Paulo. Praia, mar, litoral são sinônimos de paz, tranquilidade, ondas quebrando na areia e a possibilidade da felicidade surgir sem aviso, trazida numa nuvem passando pelo sol.
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Não faz sentido, não tem sentido um crime brutal como este. A jovem saiu de casa e não voltou. Foi encontrada morta próxima de uma caixa d’água da Sabesp, sem seus objetos pessoais, o que fez a polícia considerar o caso como latrocínio, que é o roubo seguido de morte.
Ao que parece, foi morta por asfixia, mas isso tudo tem jeito de notícia de página policial, quando, de verdade, o que está em jogo é a constatação da boçalidade, da violência gratuita, do ódio que se disseminou pela sociedade brasileira.
O brasileiro era tido como o cordial. Com certeza, hoje não é mais, até porque sessenta mil assassinatos e quarenta mil mortes no trânsito, todos os anos, em qualquer momento desmentem a antiga afirmação.
Nós não somos cordiais, nem somos pacíficos. O país vive em guerra faz muito tempo. Os números acima não dão chance para outra interpretação. São estarrecedores e deixam as mortes nos países em conflito parecendo conversa de criança.
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Confesso que não tenho resposta para o que leva alguém a cometer um crime como este. Vai contra a lógica, contra a possibilidade da misericórdia, contra a certeza de se chegar em casa no final do dia.
Vai contra a vida, contra a natureza, contra tudo que poderia fazer o mundo um lugar melhor, mas que, diante da violência, abre espaço para o desânimo, para a falta de resposta. Para a profunda tristeza de saber que uma jovem foi estupidamente assassinada.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.