Beleza? O frio não tem beleza

Poucas imagens são mais tocantes do que a montanha nevada no fundo da paisagem, com um lago e um chalé branquinho na margem.

Ou os flocos de neve caindo numa noite depois do natal e as pessoas patinando no lago congelado. A menina fazendo piruetas, a mãe de mãos dadas com a criança, o patinador atravessando o lago com o corpo jogado para frente e as mãos nas costas, dando a sensação de enorme velocidade.

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Ah, a delícia de um vinho tinto acompanhando uma fondue de queijo, ou um conhaque na beira da lareira! O inverno pode ser especial, basta se ter como aproveitá-lo integralmente, curtindo o frio domado pelo casaco grosso, pelo edredom de penas de ganso, pela bebida forte misturada ao chá depois do passeio no final da tarde.

O frio pode ser a porta de entrada para sensações maravilhosas, repartidas na noite limpa, sob a lua crescente cortando o ar gelado com a lâmina da cimitarra erguida no céu. O frio pode ser muita coisa…

O frio também pode ser o outro lado de tudo de bom e belo que as noites de inverno prometem nos filmes com final feliz.

O frio pode ser cruel, cortar feito navalha, abrir a pele, doer nos ossos. Pode torcer os nervos enregelados pelo vento impiedoso, que vara a noite da cidade suja com a sem cerimônia de quem sabe que não há força capaz de detê-lo. O frio pode matar.

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Não há beleza nas ruas geladas de certas noites de inverno no abandono do Centro Velho. Não há poesia no papelão estendido na calçada, nem nos caixotes abertos para aparar o vento, nem dentro das tendas que dão pouca proteção contra o frio que vara a lona e entra duro por debaixo dos cobertores rasgados.

O outro lado do frio não tem beleza, não tem poesia, exceto na solidariedade de quem sai para a rua pra minorar tanto sofrimento.

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