A banalidade da violência
O assassinato de um homem negro pelos seguranças de um supermercado em Porto Alegre desencadeou uma onda de protestos.
Os protestos são legítimos, em todos os sentidos, mas o problema nacional vai muito além de um assassinato, por mais dramático e terrível que seja. Nós temos sessenta mil assassinatos por ano. É mais do que o total de soldados norte-americanos mortos em dez anos de guerra do Vietnam. É mais do que o número de mortos na guerra civil da Síria. É mais do que o número de baixas na guerra do Afeganistão. E, no entanto, nós não prestamos atenção, não fazemos manifestações, não exigimos do Estado que cumpra seu papel de Estado.
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O Rio de Janeiro está nas mãos das milícias e do tráfico de drogas. Mais de 60% do território do estado está dominado. A razão é simples: ao longo das últimas décadas, os governos estadual e da Capital se omitiram vergonhosamente e, em vez de entregar o que se espera dos governos, serviram de trampolim para seus ocupantes meterem a mão nas contas públicas, sacando quantias inimagináveis para seu uso particular.
De forma geral, o Estado, ou os governos, no Brasil, são omissos em quase todos os sentidos. Não dão saúde, nem educação, nem segurança, nem assistência à família, nem justiça minimamente justa.
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Como não tem segurança pública – o número de homicídios é suficiente para mostrar que não tem -, a segurança foi privatizada. E aí, sem amparo legal, vigilantes despreparados cometem toda sorte de arbitrariedades e violências, convencidos de que são policiais e por isso podem fazer o que querem. Só que eles não são.
A morte de um homem no supermercado de Porto Alegre serviu para despertar as pessoas, mas a indignação não pode passar em poucos dias. Temos que permanentemente exigir que o governo faça sua parte.
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